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Como diagnosticar o TDAH

RESUMO

Esse artigo é uma pesquisa bibliográfica que busca entender o que fazer quando se descobre um diagnóstico de imperatividade. Segundo Rohde e Halpern (2004, p.S63), é importante salientar que a desatenção, a hiperatividade ou a impulsividade, como sintomas isolados: [...] podem resultar de muitos problemas na vida de relação das crianças (com os pais, colegas e amigos) de sistemas educacionais inadequados, ou podem estar associados a outros transtornos comumente encontrados na infância e adolescência. Portanto, para o diagnóstico do TDAH, é sempre necessário contextualizar os sintomas na história de vida da criança. Palavras Chaves: Diagnóstico do TDAH; Hiperatividade; Impulsividade.

De acordo com Rohde e Halpem (2004, p. S63), a sintomatologia deste transtorno envolve a tríade desatenção, hiperatividade impulsividade. Rohde e Halpem (2004), comentam que o DSM-IV propõe a necessidade de pelo menos seis sintomas de desatenção e/ou seis sintomas de hiperatividade/impulsividade para o diagnóstico de TDAH, porém este limiar pode ser rebaixado em adolescentes e adultos, porque eles podem continuar com um grau significativo de prejuízo no seu funcionamento global mesmo quando apresentam menos de seis sintomas de desatenção e ou hiperatividade/impulsividade. Os mesmos autores comentam que antigamente, acreditava-se que todas as crianças com o transtorno superavam os sintomas (amadureciam) com a chegada da puberdade, mas que estudos prospectivos recentes realizados com crianças com TDAH, demonstraram uma persistência do diagnóstico em até cerca de 70-80% dos casos na adolescência inicial à intermediaria. Além disso, demonstrou-se que aproximadamente 50% dos adultos diagnosticados com TDAH na infância seguem apresentando sintomas significativos associados a déficits de atenção e impulsividade, principalmente a cognitiva (eles continuam a agir sem pensar). O DSM-IV inclui um critério de idade de início dos sintomas antes dos sete anos, causando prejuízos. Entretanto, este critério é derivado apenas de opinião de comitê de experts no TDAH, sem qualquer evidência científica que sustente sua validade clínica. Sugere-se que o clínico não descarte a possibilidade do diagnóstico em pacientes que apresentem sintomas causando prejuízo apenas após os 7 anos (Rohde; Halpern, 2004, p.S66). Com Antony e Ribeiro (2004, p.128-129), também vemos que: Para fins diagnósticos, o DSM-IV exige que os sintomas de falta de atenção, hiperatividade e impulsividade tenham surgido antes dos sete anos, que ocorram frequentemente, que sejam mal adaptativos e inconscientes com o nível de desenvolvimento da criança, que persistam por, no mínimo, seis meses e se manifestem em dois ou mais ambientes. Pelo menos seis dos sintomas de desatenção e/ou seis dos sintomas de hiperatividade/impulsividade têm que estar presentes frequentemente na vida da criança. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 65 Rohde e Halpern ( 2004, p.S63), apresentam algumas dicas que indicam a presença do TDAH: a) Duração dos sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade: Normalmente, as crianças com TDAH apresentam históricos do transtorno desde a idade pré-escolar com a presença de sintomas, ou, pelo menos, um período de vários meses de sintomologia intensa; b) Frequência e intensidade dos sintomas: Para o diagnóstico de TDAH é fundamental que pelo menos seis dos sintomas de desatenção e/ou seis dos sintomas de hiperatividade/impulsividade descritos estejam presentes frequentemente (cada um dos sintomas) na vida da criança; c) Persistência dos sintomas em vários locais e ao longo do tempo: Os sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade precisam ocorrer em vários ambientes da vida da criança, como na escola e em casa, mantendo-se constantes ao longo do período avaliado. Se os sintomas ocorrem apenas em casa ou na escola, pode indicar problemas familiares ou sistema de ensino inadequado. Da mesma forma, flutuações de sintomas com períodos com sintomas e outros sem sintomas não são características do TDAH; d) Prejuízo clinicamente significativo na vida da criança: Sintomas de hiperatividade ou impulsividade sem prejuízo na vida da criança podem traduzir muito mais estilos de funcionamento ou temperamento do que um transtorno psiquiátrico; e) Entendimento do significado do sintoma: Para o diagnóstico de TDAH, é necessária uma avaliação cuidadosa de cada sintoma. Por exemplo, uma criança pode ter dificuldade de seguir instruções por um comportamento de oposição e desafio aos pais e professores, caracterizando muito mais um sintoma de transtorno opositor desafiante do que de TDAH. A apresentação dos sintomas varia de acordo com o estágio do desenvolvimento da criança. Assim, segundo Rohde e Halpern (2004, p.S63-64): Sintomas relacionados à hiperatividade/impulsividade são mais frequentes do que sintomas de desatenção em pré-escolares com TDAH, como uma atividade mais intensa são características de pré-escolares, os diagnósticos de TDAH deve ser feito com muita cautela antes dos 6 anos de vida. E por isso, entre outras razões, que o conhecimento do desenvolvimento normal de crianças é fundamental para a avaliação de psicopatologia nessa faixa etária. A literatura indica que os sintomas de REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 66 hiperatividade diminuem na adolescência, restando, de forma mais acentuada, os sintomas de desatenção e de impulsividade. Benczik (2000, p.36), apresenta algumas considerações sobre a dificuldade de atenção, um dos sintomas mais identificados da hiperatividade. Para uma melhor compreensão dos distúrbios de atenção vinculados a hiperatividade, pode-se fazer uma referência ao desenvolvimento normal de atenção, distribuído em algumas etapas: • Até os 2 anos de idade, a atenção é controlada e dirigida por determinadas configurações de estímulos. Não exigindo controle voluntário por parte da criança; • Entre os 2 e 5 anos, surge o controle voluntário da atenção, em que a criança já consegue concentrar-se de forma seletiva, embora sua atenção ainda seja dominada pelas características mais centrais e salientes do estímulo (dependem do estímulo externo); • A partir dos 6 anos ocorre mudança notável nesse aspecto: o controle da atenção passa a ser interno. A criança já é capaz de desenvolver estratégias para entender, seletivamente, aos estímulos que ela considera relevantes para a solução de determinados problemas, sejam ou não eles os aspectos mais centrais de estimulação externa. Segundo Benczik (2000, p.36), os resultados de estudos experimentais realizados com indivíduos hiperativos demonstram que esses processos da atenção se encontram alterados “porque por um lado eles apresentam dificuldades para concentrar sua atenção durante períodos contínuos de tempo e por outro, no processo de evolução interna, eles não conseguem se concentrar de forma seletiva para solucionar problemas”. Topczewski (1999, p.29-30), comenta que a hiperatividade pode ser percebida em várias fases do desenvolvimento da criança, podendo ser observada já no lactante, mas é mais evidente em crianças na fase pré-escolar ou escolar, apresentando características como: • Ao brincar, a criança não consegue se fixar por muito tempo em determinadas atividades, desinteressando-se rapidamente pela atividade e procurando outra logo a seguir; • São crianças que estão sempre em todos os lugares: elas não param; REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 67 • Necessitam ser vigiado constantemente porque muitas vezes inventam brincadeiras que envolvem perigo; • Trocam com frequência de brinquedo porque não conseguem se satisfazer com nenhum por muito tempo; • Apresentam espírito de destruição, mesmo com seus objetos; • Não conseguem ficar sentada á mesa durante as refeições; • Assistem televisão por tempo muito limitado; • Falam muito e mudam de assunto rapidamente, sem mesmo terminar o pensamento anterior; • Qualquer estímulo, por mais simples que seja, é suficiente para desviar a atenção da atividade que estas crianças estavam desenvolvendo; • Não conseguem finalizar tarefas de maneira adequada; • São desorganizadas na vida diária, com suas roupas, seus objetos pessoais, brinquedos e material escolar; No período pré-escolar, estas crianças, segundo Topczewski (1999, p.30): • Apresentam períodos de sono curto; • Acordam várias vezes durante a noite; • Choram com muita frequência, sem causa aparente; • Apresentam cólicas abdominais frequentes e exageradas; • Denotam persistente desconforto e insatisfação. Na escola, segundo o mesmo autor apresentam: • Comportamento destoante em relação às outras crianças (ponto básico da identificação de um hiperativo); • Movimenta-se excessivamente em sala de aula; • Atrapalha a dinâmica das aulas; • Fala muito com os colegas de sala; • Não prestam atenção e não conseguem se concentrar em suas atividades escolares; • Interrompem a professora com frequência; • Interferem de modo inapropriado e inoportuno as conversas dos outros alunos; • Tumultuam a classe com brincadeiras fara de hora; • Apresentam iniciativas descontroladas; REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 68 • O desempenho global nas diversas atividades encontra-se em nível aquém da média do seu grupo; O QUE OS PAIS DEVEM SABER Muitos pais, segundo Topczewski (1999, p.32), nem sempre conseguem perceber as diferenças comportamentais do filho com TDAH, especialmente quando tem outros filhos. A maioria deles acredita tratar-se de uma fase transitória e, com isso, tornam-se mais tolerantes. A acomodação dos pais a este tipo de comportamento faz com que não percebam o quanto a criança está se desviando dos padrões de conduta aceitáveis/toleráveis. Outros pais, segundo o mesmo autor, não querem admitir que o filho apresente algum comprometimento comportamental e consideram as queixas em relação à criança uma questão de antipatia ou intolerância à criança por parte dos amiguinhos de sala, professores e diretores. Esta não aceitação retarda o diagnóstico do TDAH e, consequentemente, seu tratamento. Benczik (200, p.47), comenta que muitos pais acusam a criança de “não escutar, não conseguir completar as solicitações mais simples e ser incapaz de terminar o dever de casa”, principalmente porque o dever de casa para esse tipo de criança pode ser muito estressante por sua atividade repetitiva, sedentária e que requer autoinstrução por parte do aluno. Segundo a mesma autora, mesmo as crianças mais inteligentes com este transtorno apresentam-se entediadas durante os deveres escolares ou de casa. A maioria dos pais fica sabendo pelo professor que seu filho está criando problemas, a desatenta e desorganizada. Mas, nem sempre é um sinal de hiperatividade. Os pais têm o direito de obter informações sobre isso e pedir uma entrevista com o psicólogo das escolas para que este observe a criança na saia de aula, entrevista a criança e o professor, aplique teste escolares e psicológicos. Segundo (Goldstein e Goldstein (1994, p.37), “de acordo com as leis, toda criança tem direito a uma educação apropriada e gratuita, e tal educação deve satisfazer as necessidades escolares, emocionais e sociais da criação deve satisfazer as necessidades escolares, emocionais e sociais da criança”. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 69 Se os membros da escola suspeitam que a criança seja hiperativa, geralmente eles indicam aos pais que procurem um médico ou psicólogo. A consulta ao médico é uma etapa essencial para a avaliação da hiperatividade. A orientação psicológica muitas vezes é interessante e necessária para os pais para ajudá-los a entender e a lidar com esse transtorno de forma mais adequada. É comum, segundo Topczewski (1999), que os pais se sintam desorientados e fragilizados diante desta situação. Muitos pais acreditam-se perfeitos, isentos de problemas e dispensam qualquer tipo de orientação psicológica, achando que as mães são quem devem ser orientadas porque cabe a elas educar os filhos. Segundo o autor não são poucas às vezes em que os pais atribuem às mães a culpa pela relação difícil com o filho, embora eles participem muito pouco no sentido ajudar a melhorar essa relação. O comportamento hiperativo da criança pode desestabilizar a relação do casal e Eles devem administrar os comportamentos da criança para que sejam evitados desvios comportamentais na criança devido às discórdias do casal. Tais discórdias têm repercussões negativas no comportamento emocional da criança e podem agravar a hiperatividade. HIPERATIVIDADE NA ESCOLA “Uma estimativa para o TDAH seria que 15% das crianças em idade escolar têm TDAH, e ainda assim ela continua sendo muito pouco conhecida pelo público em geral, com frequência passando despercebida ou sendo erradamente diagnosticada.” (Hallowell; Ratey, 1999, p.62). Já Antony e Ribeiro (2004, p. 128), referem que no Brasil, estudos epidemiológicos realizados a partir dos critérios do DSM-IV situam a prevalência do TDAH entre 3% a 5% e que o transtorno é mais comum em meninos (9%) com sintomas de hiperatividade do que em meninas (3%) que apresentam sintomas desatenção. Os mesmos autores ainda comentam que: As pesquisas mostram um alta taxa de comorbidade entre o TDAH e os transtornos do comportamento (transtorno de conduta e transtorno desafiador de oposição); depressão; transtorno de ansiedade; e transtorno da aprendizagem. Vasconcellos (2003), comenta que a prevalência tradicional do TDAH é o 3% a 5% nas crianças escolares, mas podem ser encontradas prevalências mais altas – 4% a 12% da população geral de crianças de 6 a 12 anos de idade. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 70 Silva, (2005, p.3), refere que estudos recentes têm observado que entre 30% a 70% das crianças com o TDAH continuam com sintomas ao longo da vida, suficientemente graves para causar prejuízo em seu desempenho diário. COMO DIAGNOSTICAR? “O TDAH tem um poderoso impacto no ajustamento educacional da criança e pode levar as crianças do ensino regular ao “risco de fracasso escolar duas a três vezes maior do que outra criança sem dificuldades escolares, mas com inteligência equivalente”. (Benczik, 2000, p.43). Freire e Pondé (2005), comentam que o TDAH é o distúrbio neuropsiquiátrico mais comum da infância e entre as crianças escolares, em que a criança apresentase predominantemente desatenta, predominantemente hiperativa/impulsiva ou a combinação dos três sintomas. O predominantemente desatento é o mais comum e menos diagnosticado por se tratar de um distúrbio bem tolerado socialmente. Os autores citam que as crianças com TDAH têm sérios problemas de funcionamento social, incluindo dificuldade escolares, problemas de relacionamento familiar e com amigos, além de baixa autoestima. Segundo Pastura, Mattos e Araújo (2005, p.325), o desempenho escolar da criança depende de diferentes fatores: características da escola (físicas, pedagógicas, qualificação do professor), da família (nível de escolaridade dos pais, presença dos pais e interação dos pais com escola e deveres) e do próprio indivíduo. Rohde e Halpern (2004, p.S66), comentam que as crianças com TDAH com sintomas de hiperatividade/impulsividade são mais agressivas e impulsivas e tendem a apresentar taxas de impopularidade e de rejeição pelos colegas. As crianças com TDAH apresentam também, ao longo do seu desenvolvimento, segundo Rohde e Halpern (2004, p. S67): Um risco aumentando de baixo desempenho escolar, repetência, expulsões e suspensões escolares, relações difíceis com familiares e colegas, desenvolvimento de ansiedade, depressão, baixa autoestima, problemas de conduta e delinquência, experimentação e abuso de drogas precoces [...], assim como dificuldades de relacionamento na vida adulta, casamento e no trabalho”. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 71 CONSIDERAÇÕES FINAIS As frequentes mudanças de nomes – lesão cerebral mínima, disfunção cerebral mínima, distúrbio do déficit de atenção com ou sem hiperatividade (TDAH) refletem as incertezas em todos esses anos sobre as causas e critérios de diagnósticos para este transtorno tão comum na infância. Mas, pode-se comprovar que este transtorno envolve um conjunto de sintomas ligados a atividade motora, a impulsividade e atenção, tendo início na idade escolar e sendo mais predominante em meninos. Crianças com TDAH são a grande dificuldade enfrentada por escolas, professores e pais, por ser ainda um tema pouco conhecido, e essa falta de conhecimentos leva muitas escolas/professores a cometer sérios erros ao diagnosticar a criança e a lidar com ela. Escola e família trabalhando juntas podem auxiliar no tratamento da criança com TDAH e em sua socialização, proporcionando uma vida mais tranquila para esta criança.

 

REFERÊNCIAS ANDRADE, Érico Roberto de. Indisciplinado ou hiperativo. Nova Escola, São Paulo, n.132, p.30-32 maio de 2000. ANTONY, Sheila; RIBEIRO, Jorge Ponciano. A criança hiperativa: uma visão da abordagem genética. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v.20, n.2, p. 127-134, maio/agosto, 2004. BENCZIK, Edyleine Belini Peroni. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: atualização diagnóstica e terapêutica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000. CORREDATO, Tânia Regina; BROGIO, Silvana. Hiperatividade ou falta de limites? Colloquium Humanarum, Anais. Presidente Prudente, v. 1, n.1, p. 73-79, jul/dez.,2003. FREIRE, Antônio Carlos Cruz; PONDÉ, Milena Pereira. Estudo piloto da prevalência do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade entre crianças escolares na cidade do Salvador, Bahia, Brasil. ADe acordo com Rohde e Halpem (2004, p. S63), a sintomatologia deste transtorno envolve a tríade desatenção, hiperatividade impulsividade. Rohde e Halpem (2004), comentam que o DSM-IV propõe a necessidade de pelo menos seis sintomas de desatenção e/ou seis sintomas de hiperatividade/impulsividade para o diagnóstico de TDAH, porém este limiar pode ser rebaixado em adolescentes e adultos, porque eles podem continuar com um grau significativo de prejuízo no seu funcionamento global mesmo quando apresentam menos de seis sintomas de desatenção e ou hiperatividade/impulsividade. Os mesmos autores comentam que antigamente, acreditava-se que todas as crianças com o transtorno superavam os sintomas (amadureciam) com a chegada da puberdade, mas que estudos prospectivos recentes realizados com crianças com TDAH, demonstraram uma persistência do diagnóstico em até cerca de 70-80% dos casos na adolescência inicial à intermediaria. Além disso, demonstrou-se que aproximadamente 50% dos adultos diagnosticados com TDAH na infância seguem apresentando sintomas significativos associados a déficits de atenção e impulsividade, principalmente a cognitiva (eles continuam a agir sem pensar). O DSM-IV inclui um critério de idade de início dos sintomas antes dos sete anos, causando prejuízos. Entretanto, este critério é derivado apenas de opinião de comitê de experts no TDAH, sem qualquer evidência científica que sustente sua validade clínica. Sugere-se que o clínico não descarte a possibilidade do diagnóstico em pacientes que apresentem sintomas causando prejuízo apenas após os 7 anos (Rohde; Halpern, 2004, p.S66). Com Antony e Ribeiro (2004, p.128-129), também vemos que: Para fins diagnósticos, o DSM-IV exige que os sintomas de falta de atenção, hiperatividade e impulsividade tenham surgido antes dos sete anos, que ocorram frequentemente, que sejam mal adaptativos e inconscientes com o nível de desenvolvimento da criança, que persistam por, no mínimo, seis meses e se manifestem em dois ou mais ambientes. Pelo menos seis dos sintomas de desatenção e/ou seis dos sintomas de hiperatividade/impulsividade têm que estar presentes frequentemente na vida da criança. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 65 Rohde e Halpern ( 2004, p.S63), apresentam algumas dicas que indicam a presença do TDAH: a) Duração dos sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade: Normalmente, as crianças com TDAH apresentam históricos do transtorno desde a idade pré-escolar com a presença de sintomas, ou, pelo menos, um período de vários meses de sintomologia intensa; b) Frequência e intensidade dos sintomas: Para o diagnóstico de TDAH é fundamental que pelo menos seis dos sintomas de desatenção e/ou seis dos sintomas de hiperatividade/impulsividade descritos estejam presentes frequentemente (cada um dos sintomas) na vida da criança; c) Persistência dos sintomas em vários locais e ao longo do tempo: Os sintomas de desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade precisam ocorrer em vários ambientes da vida da criança, como na escola e em casa, mantendo-se constantes ao longo do período avaliado. Se os sintomas ocorrem apenas em casa ou na escola, pode indicar problemas familiares ou sistema de ensino inadequado. Da mesma forma, flutuações de sintomas com períodos com sintomas e outros sem sintomas não são características do TDAH; d) Prejuízo clinicamente significativo na vida da criança: Sintomas de hiperatividade ou impulsividade sem prejuízo na vida da criança podem traduzir muito mais estilos de funcionamento ou temperamento do que um transtorno psiquiátrico; e) Entendimento do significado do sintoma: Para o diagnóstico de TDAH, é necessária uma avaliação cuidadosa de cada sintoma. Por exemplo, uma criança pode ter dificuldade de seguir instruções por um comportamento de oposição e desafio aos pais e professores, caracterizando muito mais um sintoma de transtorno opositor desafiante do que de TDAH. A apresentação dos sintomas varia de acordo com o estágio do desenvolvimento da criança. Assim, segundo Rohde e Halpern (2004, p.S63-64): Sintomas relacionados à hiperatividade/impulsividade são mais frequentes do que sintomas de desatenção em pré-escolares com TDAH, como uma atividade mais intensa são características de pré-escolares, os diagnósticos de TDAH deve ser feito com muita cautela antes dos 6 anos de vida. E por isso, entre outras razões, que o conhecimento do desenvolvimento normal de crianças é fundamental para a avaliação de psicopatologia nessa faixa etária. A literatura indica que os sintomas de REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 66 hiperatividade diminuem na adolescência, restando, de forma mais acentuada, os sintomas de desatenção e de impulsividade. Benczik (2000, p.36), apresenta algumas considerações sobre a dificuldade de atenção, um dos sintomas mais identificados da hiperatividade. Para uma melhor compreensão dos distúrbios de atenção vinculados a hiperatividade, pode-se fazer uma referência ao desenvolvimento normal de atenção, distribuído em algumas etapas: • Até os 2 anos de idade, a atenção é controlada e dirigida por determinadas configurações de estímulos. Não exigindo controle voluntário por parte da criança; • Entre os 2 e 5 anos, surge o controle voluntário da atenção, em que a criança já consegue concentrar-se de forma seletiva, embora sua atenção ainda seja dominada pelas características mais centrais e salientes do estímulo (dependem do estímulo externo); • A partir dos 6 anos ocorre mudança notável nesse aspecto: o controle da atenção passa a ser interno. A criança já é capaz de desenvolver estratégias para entender, seletivamente, aos estímulos que ela considera relevantes para a solução de determinados problemas, sejam ou não eles os aspectos mais centrais de estimulação externa. Segundo Benczik (2000, p.36), os resultados de estudos experimentais realizados com indivíduos hiperativos demonstram que esses processos da atenção se encontram alterados “porque por um lado eles apresentam dificuldades para concentrar sua atenção durante períodos contínuos de tempo e por outro, no processo de evolução interna, eles não conseguem se concentrar de forma seletiva para solucionar problemas”. Topczewski (1999, p.29-30), comenta que a hiperatividade pode ser percebida em várias fases do desenvolvimento da criança, podendo ser observada já no lactante, mas é mais evidente em crianças na fase pré-escolar ou escolar, apresentando características como: • Ao brincar, a criança não consegue se fixar por muito tempo em determinadas atividades, desinteressando-se rapidamente pela atividade e procurando outra logo a seguir; • São crianças que estão sempre em todos os lugares: elas não param; REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 67 • Necessitam ser vigiado constantemente porque muitas vezes inventam brincadeiras que envolvem perigo; • Trocam com frequência de brinquedo porque não conseguem se satisfazer com nenhum por muito tempo; • Apresentam espírito de destruição, mesmo com seus objetos; • Não conseguem ficar sentada á mesa durante as refeições; • Assistem televisão por tempo muito limitado; • Falam muito e mudam de assunto rapidamente, sem mesmo terminar o pensamento anterior; • Qualquer estímulo, por mais simples que seja, é suficiente para desviar a atenção da atividade que estas crianças estavam desenvolvendo; • Não conseguem finalizar tarefas de maneira adequada; • São desorganizadas na vida diária, com suas roupas, seus objetos pessoais, brinquedos e material escolar; No período pré-escolar, estas crianças, segundo Topczewski (1999, p.30): • Apresentam períodos de sono curto; • Acordam várias vezes durante a noite; • Choram com muita frequência, sem causa aparente; • Apresentam cólicas abdominais frequentes e exageradas; • Denotam persistente desconforto e insatisfação. Na escola, segundo o mesmo autor apresentam: • Comportamento destoante em relação às outras crianças (ponto básico da identificação de um hiperativo); • Movimenta-se excessivamente em sala de aula; • Atrapalha a dinâmica das aulas; • Fala muito com os colegas de sala; • Não prestam atenção e não conseguem se concentrar em suas atividades escolares; • Interrompem a professora com frequência; • Interferem de modo inapropriado e inoportuno as conversas dos outros alunos; • Tumultuam a classe com brincadeiras fara de hora; • Apresentam iniciativas descontroladas; REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 68 • O desempenho global nas diversas atividades encontra-se em nível aquém da média do seu grupo; O QUE OS PAIS DEVEM SABER Muitos pais, segundo Topczewski (1999, p.32), nem sempre conseguem perceber as diferenças comportamentais do filho com TDAH, especialmente quando tem outros filhos. A maioria deles acredita tratar-se de uma fase transitória e, com isso, tornam-se mais tolerantes. A acomodação dos pais a este tipo de comportamento faz com que não percebam o quanto a criança está se desviando dos padrões de conduta aceitáveis/toleráveis. Outros pais, segundo o mesmo autor, não querem admitir que o filho apresente algum comprometimento comportamental e consideram as queixas em relação à criança uma questão de antipatia ou intolerância à criança por parte dos amiguinhos de sala, professores e diretores. Esta não aceitação retarda o diagnóstico do TDAH e, consequentemente, seu tratamento. Benczik (200, p.47), comenta que muitos pais acusam a criança de “não escutar, não conseguir completar as solicitações mais simples e ser incapaz de terminar o dever de casa”, principalmente porque o dever de casa para esse tipo de criança pode ser muito estressante por sua atividade repetitiva, sedentária e que requer autoinstrução por parte do aluno. Segundo a mesma autora, mesmo as crianças mais inteligentes com este transtorno apresentam-se entediadas durante os deveres escolares ou de casa. A maioria dos pais fica sabendo pelo professor que seu filho está criando problemas, a desatenta e desorganizada. Mas, nem sempre é um sinal de hiperatividade. Os pais têm o direito de obter informações sobre isso e pedir uma entrevista com o psicólogo das escolas para que este observe a criança na saia de aula, entrevista a criança e o professor, aplique teste escolares e psicológicos. Segundo (Goldstein e Goldstein (1994, p.37), “de acordo com as leis, toda criança tem direito a uma educação apropriada e gratuita, e tal educação deve satisfazer as necessidades escolares, emocionais e sociais da criação deve satisfazer as necessidades escolares, emocionais e sociais da criança”. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 69 Se os membros da escola suspeitam que a criança seja hiperativa, geralmente eles indicam aos pais que procurem um médico ou psicólogo. A consulta ao médico é uma etapa essencial para a avaliação da hiperatividade. A orientação psicológica muitas vezes é interessante e necessária para os pais para ajudá-los a entender e a lidar com esse transtorno de forma mais adequada. É comum, segundo Topczewski (1999), que os pais se sintam desorientados e fragilizados diante desta situação. Muitos pais acreditam-se perfeitos, isentos de problemas e dispensam qualquer tipo de orientação psicológica, achando que as mães são quem devem ser orientadas porque cabe a elas educar os filhos. Segundo o autor não são poucas às vezes em que os pais atribuem às mães a culpa pela relação difícil com o filho, embora eles participem muito pouco no sentido ajudar a melhorar essa relação. O comportamento hiperativo da criança pode desestabilizar a relação do casal e Eles devem administrar os comportamentos da criança para que sejam evitados desvios comportamentais na criança devido às discórdias do casal. Tais discórdias têm repercussões negativas no comportamento emocional da criança e podem agravar a hiperatividade. HIPERATIVIDADE NA ESCOLA “Uma estimativa para o TDAH seria que 15% das crianças em idade escolar têm TDAH, e ainda assim ela continua sendo muito pouco conhecida pelo público em geral, com frequência passando despercebida ou sendo erradamente diagnosticada.” (Hallowell; Ratey, 1999, p.62). Já Antony e Ribeiro (2004, p. 128), referem que no Brasil, estudos epidemiológicos realizados a partir dos critérios do DSM-IV situam a prevalência do TDAH entre 3% a 5% e que o transtorno é mais comum em meninos (9%) com sintomas de hiperatividade do que em meninas (3%) que apresentam sintomas desatenção. Os mesmos autores ainda comentam que: As pesquisas mostram um alta taxa de comorbidade entre o TDAH e os transtornos do comportamento (transtorno de conduta e transtorno desafiador de oposição); depressão; transtorno de ansiedade; e transtorno da aprendizagem. Vasconcellos (2003), comenta que a prevalência tradicional do TDAH é o 3% a 5% nas crianças escolares, mas podem ser encontradas prevalências mais altas – 4% a 12% da população geral de crianças de 6 a 12 anos de idade. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 70 Silva, (2005, p.3), refere que estudos recentes têm observado que entre 30% a 70% das crianças com o TDAH continuam com sintomas ao longo da vida, suficientemente graves para causar prejuízo em seu desempenho diário. COMO DIAGNOSTICAR? “O TDAH tem um poderoso impacto no ajustamento educacional da criança e pode levar as crianças do ensino regular ao “risco de fracasso escolar duas a três vezes maior do que outra criança sem dificuldades escolares, mas com inteligência equivalente”. (Benczik, 2000, p.43). Freire e Pondé (2005), comentam que o TDAH é o distúrbio neuropsiquiátrico mais comum da infância e entre as crianças escolares, em que a criança apresentase predominantemente desatenta, predominantemente hiperativa/impulsiva ou a combinação dos três sintomas. O predominantemente desatento é o mais comum e menos diagnosticado por se tratar de um distúrbio bem tolerado socialmente. Os autores citam que as crianças com TDAH têm sérios problemas de funcionamento social, incluindo dificuldade escolares, problemas de relacionamento familiar e com amigos, além de baixa autoestima. Segundo Pastura, Mattos e Araújo (2005, p.325), o desempenho escolar da criança depende de diferentes fatores: características da escola (físicas, pedagógicas, qualificação do professor), da família (nível de escolaridade dos pais, presença dos pais e interação dos pais com escola e deveres) e do próprio indivíduo. Rohde e Halpern (2004, p.S66), comentam que as crianças com TDAH com sintomas de hiperatividade/impulsividade são mais agressivas e impulsivas e tendem a apresentar taxas de impopularidade e de rejeição pelos colegas. As crianças com TDAH apresentam também, ao longo do seu desenvolvimento, segundo Rohde e Halpern (2004, p. S67): Um risco aumentando de baixo desempenho escolar, repetência, expulsões e suspensões escolares, relações difíceis com familiares e colegas, desenvolvimento de ansiedade, depressão, baixa autoestima, problemas de conduta e delinquência, experimentação e abuso de drogas precoces [...], assim como dificuldades de relacionamento na vida adulta, casamento e no trabalho”. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 71 CONSIDERAÇÕES FINAIS As frequentes mudanças de nomes – lesão cerebral mínima, disfunção cerebral mínima, distúrbio do déficit de atenção com ou sem hiperatividade (TDAH) refletem as incertezas em todos esses anos sobre as causas e critérios de diagnósticos para este transtorno tão comum na infância. Mas, pode-se comprovar que este transtorno envolve um conjunto de sintomas ligados a atividade motora, a impulsividade e atenção, tendo início na idade escolar e sendo mais predominante em meninos. Crianças com TDAH são a grande dificuldade enfrentada por escolas, professores e pais, por ser ainda um tema pouco conhecido, e essa falta de conhecimentos leva muitas escolas/professores a cometer sérios erros ao diagnosticar a criança e a lidar com ela. Escola e família trabalhando juntas podem auxiliar no tratamento da criança com TDAH e em sua socialização, proporcionando uma vida mais tranquila para esta criança. REFERÊNCIAS ANDRADE, Érico Roberto de. Indisciplinado ou hiperativo. Nova Escola, São Paulo, n.132, p.30-32 maio de 2000. ANTONY, Sheila; RIBEIRO, Jorge Ponciano. A criança hiperativa: uma visão da abordagem genética. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v.20, n.2, p. 127-134, maio/agosto, 2004. BENCZIK, Edyleine Belini Peroni. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: atualização diagnóstica e terapêutica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000. CORREDATO, Tânia Regina; BROGIO, Silvana. Hiperatividade ou falta de limites? Colloquium Humanarum, Anais. Presidente Prudente, v. 1, n.1, p. 73-79, jul/dez.,2003. FREIRE, Antônio Carlos Cruz; PONDÉ, Milena Pereira. Estudo piloto da prevalência do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade entre crianças escolares na cidade do Salvador, Bahia, Brasil. A  Arquivo de Neuropsiquiatria, v. 63, n. 2-b, p. 474-478, 2005. REVISTA MAIS EDUCAÇÃO 72 FURTADO, Albertina. Uma dificuldade de aprendizagem quase desconhecida e/ou mal interpretada: a hiperatividade. (2003). 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