08hs - 17:30hs Seg - Sexta
Avenida Raulino Cotta Pacheco 1589 -

Agora é lei: toda escola pública deverá ter uma biblioteca

Segundo o Censo Escolar de 2023, apenas 55% das escolas públicas e privadas possuem bibliotecas. No caso das públicas, apenas 48% delas têm biblioteca ou sala de leitura, segundo um levantamento feito pela Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon). Isso significa que 71,3 mil escolas, com cerca de 10 milhões de crianças e adolescentes, ainda não conseguem ter acesso a livros. 

O que muda com a criação do SNBE? 

“Muda tudo. Ter políticas públicas para bibliotecas escolares vai ampliar o número de estudantes impactados e de toda a comunidade escolar, inclusive famílias e o próprio entorno”, afirma Beto Silva, pedagogo, psicopedagogo, mediador de leitura literária e coordenador–geral do grupo Simbora! Educação e Cultura. Segundo o especialista, a medida pode contribuir para a democratização do uso das bibliotecas e do incentivo à leitura em regiões menos favorecidas, como comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas, em zonas rurais e urbanas periféricas.  “Para muitos alunos, o único lugar que podem ter acesso aos livros é na escola. Então, qualquer iniciativa que amplia essa possibilidade, como o SNBE, será sempre bem-vinda”, afirma Rogério Tadeu Gonçalves Marinelli, diretor da escola municipal EMEF Érico Veríssimo, a mesma da professora Ana CristinaSegundo ele, será uma forma de democratização do acesso ao conhecimento.

“Agora, o desafio de implementar bibliotecas em todo o Brasil será grande, principalmente porque nosso país é continental. Será importante que haja uma articulação entre governos federal, estaduais e municipais”, sugere Poliana Silva, fundadora da BEEM – Biblioteca Escolar e Multiletramentos. Ela tem mais de 15 anos de experiência na área da educação e atualmente estuda biblioteconomia na USP.

O caminho para democratizar o uso das bibliotecas 

O primeiro desafio, segundo Poliana, é ampliar a conscientização sobre o uso das bibliotecas em todo o Brasil. Para ela, o ideal é ter políticas públicas para que as pessoas conheçam qual é a função da biblioteca e sua importância para o processo educativo. “A maioria dos brasileiros não teve acesso a esses equipamentos na infância e adolescência, por isso, não construiu repertório, não tem consciência de valor”, explica a educadora.  

Importante também olhar as especificidades de cada comunidade escolar, segundo o pedagogo Beto. “Ao implementar uma biblioteca, será fundamental checar o que já existe em cada escola, quais são as expectativas e os desafios da comunidade escolar e construir um plano junto com ela”, reflete. E complementa: “em todo esse processo, a participação da comunidade é importantíssima, pois a escola não está na comunidade. A escola é da comunidade”.   

Biblioteca tem que ter bibliotecário 

Não basta ter apenas uma biblioteca em cada escola, como prevê o SNBE, será necessário que cada uma tenha um bibliotecário, que é o profissional capacitado para organizar, catalogar, armazenar, conservar e divulgar os acervos do equipamento. Tendo esse cuidado, o bibliotecário, ao estimular o gosto pela leitura, auxilia junto ao professor no desenvolvimento de estudantes conscientes e críticos.  

Contudo, essa não é a realidade atual. A pesquisa da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil traz também dados sobre a existência de bibliotecários nas escolas que possuem bibliotecas. Segundo o estudo, há 20 mil estabelecimentos que contam com estes profissionais, o que corresponde a 46% das escolas com bibliotecas em todo o país. Um exemplo é o Colégio Estadual do Paraná: “Nossa biblioteca é antiga, foi fundada em 1859. E eu cuido de todo o seu acervo, que conta com 39.550 exemplares catalogados em nosso sistema”, afirma a bibliotecária da escola, Rosangela Aparecida Skrobot. 

 Bibliotecas: potencializando o ensino e a aprendizagem 

Uma das medidas mais importantes para Poliana Silva é fortalecer a comunicação entre o bibliotecário e a equipe pedagógica. “O bibliotecário precisa estar envolvido com os projetos pedagógicos da escola, para conseguir desenvolver parcerias que sejam significativas, afinal, esse profissional é uma fonte curadora de informação. Assim, será possível usar o espaço como multiletramentos”, explica a especialista.  
 
Para o pedagogo Beto, é importante incentivar o bom uso desses espaços  tanto bibliotecas quanto salas de leitura — com atividades de incentivo à leitura. “Trabalho há muito tempo com a mediação de leitura literária. Ela tem uma potência muito grande, especialmente para os processos de alfabetização”. Ele também é favor de ter outras ações que dialoguem com os livros, como contação de histórias, clubes do livro, slam, batalhas de rima entre outras.
 

 Um bom exemplo são as atividades promovidas na biblioteca do Colégio Estadual do Paraná. Uma das ações é o projeto Sedução Poética, que envolve todos os alunos da escola durante o ano. “Incentivamos os estudantes a lerem e produzirem poesias. Há varais de poesia e concurso de declamação”, explica a bibliotecária Rosangela. 

 Na sala de leitura da escola da EMEF Érico Veríssimo também  muitas ações de incentivo à leitura. “Temos atividades permanentes, como as rodas de leitura e a leitura compartilhada  em que a gente lê e discute um texto com os alunos. Participamos também do Leituraço, projeto da prefeitura de São Paulo que trabalha três temas ao longo do ano: o migrante, o indígena e o africano”, conta a professora Ana Cristina.  
 
Agora é acompanhar como será a implementação do SNBE ao longo deste ano. As expectativas das escolas são grandes e a esperança em ter um país com mais leitores também.
 

—Revista Educação: referência há 28 anos em reportagens jornalísticas e artigos exclusivos para profissionais da educação básica